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Convocação contra a corrupção

Foi publicado na Gazeta do Povo de hoje (19/12/2014) artigo de autoria do Vice-Presidente da OAB/PR e Presidente em exercício Cássio Lisandro Telles tratando sobre a postura da OAB sobre os casos de corrupção que assolam nosso país. O texto fala de uma convocação da advocacia e toda a sociedade brasileira para demonstrar a sua insatisfação e indignação com a dita cultura da corrupção do país. O teor do artigo conclama todos os cidadãos de bem a se manifestarem nesse momento importante para a definição dos rumos de nosso país.

Reproduzimos abaixo o inteiro teor do artigo, que também pode ser encontrado diretamente no site da Gazeta clicando aqui.

 

E a OAB?

 A cerimônia de diplomação dos eleitos em novembro passado, na última quarta-feira, teve como destaque o discurso do presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Desembargador Edson Luiz Vidal Pinto. A franqueza do anfitrião surpreendeu a muitos, mas não os que conhecem sua integridade e indignação permanente contra os desvios éticos da sociedade brasileira.

 A certa altura o desembargador revelou decepção por não ver, nesta quadra difícil da vida nacional, duas entidades que deveriam manifestar-se o fazerem: a Receita Federal, sempre tão zelosa quando se trata de fiscalizar o cidadão anônimo e assalariado, e a OAB, pela sua direção nacional, que guerreira, outrora, hoje, timidamente se pronuncia.

 É preciso dizer que o discurso do ilustre presidente é o discurso que a OAB Paraná sempre proferiu e defendeu. Desde que iniciei minha vida como dirigente da Ordem, presidindo uma subseção do interior do estado, me acostumei com os pedidos de pronunciamento da OAB. Compreendi desde aqueles tempos, em meados da década de 90, que nossa instituição é vista pela sociedade como uma porta voz da indignação contra o arbítrio, a malversação de recursos públicos, a violação dos direitos humanos e a corrupção. E também entendi que essa confiança depositada na OAB se deve ao histórico de lutas em favor da democracia, dos princípios republicanos e das garantias constitucionais.

 Aqui no Paraná, por exemplo, iniciou-se em 1978 o grande movimento pela redemocratização do País, quando da realização da Conferência Nacional da OAB, época em que nossa seccional era presidida por Eduardo Virmond. Mais recentemente, foi a OABPR quem encarnou a cruzada pela moralização pública, depois dos escândalos revelados pelas reportagens da Gazeta do Povo, os Diários Secretos. A campanha O Paraná que Queremos levou milhares de pessoas às ruas para protestar contra o assalto ao erário, e culminou com a publicação da lei estadual de transparência.

 No caso específico dos escândalos que envolvem a Petrobras, a postura da OABPR não deve ser diferente e não será. Durante o Colégio de Presidentes de Subseções, no mês de novembro deste ano, os 47 dirigentes do interior do estado, divulgaram nota oficial exigindo rigorosa apuração de todos os fatos e punição de todos os envolvidos. Antes, no início daquele mês, o Conselho Pleno da OABPR também havia emitido nota no mesmo sentido, repudiando a conduta criminosa de empresários, políticos e autoridades envolvidas, bem como cobrando do Conselho Federal, uma posição firme e clara contra os responsáveis pelo desvio dos recursos públicos. Nossa bancada no conselho federal apresentou um pedido de posicionamento oficial da OAB de forma clara sobre o tema, propondo termos incisivos e compatíveis com a gravidade das denúncias que a sociedade brasileira assiste. E, registre-se, o tom brando enfim adotado não foi o sugerido pelos conselheiros federais do Paraná.

 Em todas as oportunidades de manifestação temos proclamado o sentimento de toda a advocacia de repúdio, revolta e inconformismo com as sucessivas notícias de corrupção, má gestão e assalto aos cofres da Petrobras.

 Domingo passado, neste mesmo espaço, o ex-presidente da OAB/PR e Conselheiro Federal, José Lucio Glomb, voltou a resumir o pensamento da classe, no sentido de que as apurações sejam profundas.

 O eminente presidente do TRE declarou-se perplexo com o silêncio dos bons, contrastando com os movimentos que há cerca de um ano levavam às ruas o brado de indignação da população, contra os problemas de mobilidade urbana e distanciamento da classe política dos anseios da sociedade brasileira.

 Por isso, digo que as palavras do Presidente da Corte Eleitoral, devem ser recebidas como uma convocação. Uma convocação da sociedade brasileira, especialmente pelas suas instituições civis, de vigília constante e acompanhamento minucioso sobre a apuração dos fatos. Cansamos de corrupção, de incompetência, de prejuízos e de impunidade. Cansamos de aumentos de tributos. Precisamos dizer que Brasil queremos e mais do que isso, exigir o Brasil que queremos.

 O silêncio dos bons deve ser transformado em mobilização. As entidades da sociedade civil devem se unir, propor e cobrar e não apenas assistir. O patriotismo nos impele a uma cruzada pela restauração da moralidade na administração pública.

 A OAB Paraná reafirma esse compromisso. Lutemos com ardor contra a desonestidade, a sordidez, a hipocrisia e o cinismo que parecem querer tomar conta do país.

 Cássio Lisandro Telles Presidente em exercício da OAB/PR